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sábado, 16 de outubro de 2010

Fungo: que "bicho" é esse?





Faz um tempo que quero falar sobre fungos pois paira muita confusão acerca destes “bichos” que, de fato, não são nem planta nem animal mas que adoram dar suas “mordiscadas” em objetivas.
Ao invés de elaborar um artigo completamente novo, vou aproveitar as perguntas que me fizeram e as respostas que ofereci no www.fotografiabrasil.com.

Fungo não gosta de luz?
Fungos não gostam muito de luz, de forma que acondiciono todo o meu equipamento dentro de uma caixa transparente grande com tampa, tipo Tupperware. Esta caixa não fica dentro de nenhum armário, e as lentes quando dentro da caixa ficam sem tampas. Assim os equipamentos ficam sempre expostos a luz, inclusive a ótica interior das lentes.

Não é que fungo não goste de luz. Na verdade, os fungos que atacam objetivas não são afetados por luz em geral, mas apenas por luz ultra-violeta. Sabemos que o sol apresenta luz ultra-violeta e antigamente armazenáva-se lentes em contato com luz do sol (mesmo a luz do sol indireta propaga UV). Muitos também adotaram (e ainda adotam) terapias de choque, baseadas na exposição da lente ao sol, por 1 ou 2 horas, como forma de interromper a propagação de fungos.
O espectro de luz visível vai do vermelho ao violeta. Num extremo, e acima do vermelho, temos o infra-vermelho, com aproximadamente 700nm (nanometre, um bilionésimo de um metro) e no outro extremo, acima do violeta, temos o ultra-violeta, com aproximadamente 400nm.
As objetivas antigas (e isso os fotógrafos antigos talvez não soubessem ou ignoravam) já cortavam luz a partir de 350nm. Ou seja, já cortavam parte significativa da luz UV. Mas não o suficiente a ponto de comprometer os tratamentos anti-fungos a base de luz do sol.
Já nas objetivas modernas, especialmente nas de melhor qualidade, a coisa ficou complicada. Graças a aplicação de multiplas camadas (multi-coated), não ocorre mais penetração de luz UV de 400nm nas objetivas, o que torna ineficaz esse tipo de tratamento anti-fungo.

Aonde guardar suas objetivas?
Melhor maneira que achei de guardar é em cima de uma mesa, ou em uma estante. Eu guardo em uma escrivaninha de canto onde o vértice fica bem para dentro sem possibilidade do equipo levar tombo. Com isso sempre estão ao abrigo da luz e sob a circulação de ar é constante.

Não me parece boa idéia manter suas objetivas armazenadas dessa maneira.
Fungos não realizam fotossíntese e não produzem açúcares ou amino-ácidos tal como as plantas produzem. Neste sentido se comportam como animais e são completamente dependentes de outros organismos para obterem sua sustentação. O que causa o desenvolvimento de fungos numa objetiva é a ocorrência de contaminação orgânica na superfície em sua superfície ou em seu interior. Coisas como oleosidade, poeira e partículas diversas. Logo, o primeiro cuidado é manter suas objetivas muito bem limpas! Deixá-las expostas ao relento é um péssimo negócio pois estará apenas acumulando um bom banquete para os fungos.
Também deve-se evitar armazenar objetivas em recipientes orgânicos (estantes ou caixas de madeira, bolsas de couro, etc) ou em contato com materiais orgânicos (certas correias de câmera, capas de objetivas, etc). Nesse sentido, tapeware e caixas de vidro (sem silicone) são excelentes. Naturalmente, mantenha tais caixas também limpas.
Mas no interior das objetivas também podem ser encontrados matériais orgânicos. Nas objetivas antigas, era comum a utilização de uma cola produzida a partir de bálsamo canadense, muito rico em nutrientes. Daí uma das origens das grandes e rápidas infestações de fungos nessas objetivas. Já as objetivas modernas utilizam colas sintéticas que contém muito menos nutrientes e ficam, portanto, menos sujeitas a infestação, não constituindo-se em algo que tenhamos que nos preocupar (não muito!).
Os esporos de fungos estão presentes em todos os lugares, inclusive dentro das objetivas bem cuidadas e protegidas. Mas para germinarem necessitam também de umidade. Alguns deles – e aqueles que atacam objetivas são desse tipo – são capazes de sintetizar água a partir da combinação de oxigênio presente no ar e de hidrogênio, presente na matéria orgânica que se fixaram (cola da objetiva, por exemplo). Logo, é necessário controlar a umidade, o que não é facilmente obtido deixando a objetiva sob circulação de ar constante, ainda mais em região litorânea em que a umidade é mais elevada!
Finalmente, mantenha seus esporos de fungo aquecidos! Temperaturas entre 25C e 50C não permitem a germinação de fungo. Com tal temperatura é possível controlar e até mesmo eliminar a infestação (vai ver que é porisso que colocar as objetivas debaixo do sol por 1 ou 2 horas produza alguns bons resultados). De repente é uma boa levar as objetivas para dar um “rolê” na praia!
Mas o ideal é um armário desumidificador (umidade entre 35 e 50%):
http://www.gd-huitong.com/product.asp?pro_type=12

Um armário destes é ideal mas podemos nos virar com organizadores de plástico e tuperwares. As objetivas devem permanecer em seu interior, deitadas horizontalmente, sem as capas e sem que a base ou o topo fiquem em contato direto com o plástico da caixa ou com qualquer outra coisa (vamos evitar condensação). As menores e mais leves (fixas como 35 e 50mm) podem permanecer empilhadas sobre as maiores.
Não use anti-mofo destes vendidos em mercados. Sugam umidade rapidamente e excessivamente o que também é prejudicial as lentes. Sílica gel é mais seguro. Use quantidade suficiente para manter a humidade no patamar ideal, que deve ser monitorado através de um higrômetro, instalado no interior da caixa. Se esta for grande, é importante distribuir regularmente a sílica em seu interior para garantir uma absorção igualmente uniforme. A sílica pode saturar relativamente rápido e deve ser substituída quando não conseguir manter a umidade dentro do patamar aceitável. Certos tipos de sílica podem ter sua ação absorvedora parcialmente recuperada. Quando este tipo satura, pode ir ao forno até recuperar suas propriedades, geralmente indicado pela mudança de cor ou de acordo com as instruções do fabricante.


Máquinas podem ter fungos?
Outra coisa, e quanto à câmera em si (corpo) e filtros… eles podem apresentar fungos também? Nesse caso, devem ser guardados juntos com as lentes nessas caixas que vocês recomendam?
Máquinas também podem apresentar fungos e volta e meia surge alguém com uma máquina que ficou parada alguns meses, ou que sempre é guardada em uma mochila úmida e escura, e que agora está infestada de fungos. Idealmente a máquina deve ser guardada nesta caixa com controle de umidade, sempre limpa, sem a tampa e, muito importante isso, sem a correia (que é um depósito de suor e matéria orgânica). O mesmo vale para os filtros. E complementando: flashes e outros acessórios eletrônicos também podem apresentar fungos.

Guardar a objetiva na mochila é ruím?
Eu deixo minhas lentes dentro da mochila lowepro mesmo, junto com a câmera e uns saquinhos de sílica…. não é adequado?

Guardar a lente naquela bolsa/case que vem com ela, no caso específico uma 70-200L 2.8, é aconselhável?


Um dos problemas do uso de caixas, mochilas e compartimentos selados é manter o controle de umidade. Se você mantiver suas objetivas numa caixa selada, com uma quantidade excessiva de sílica gel, e sem monitoração constante através de um higrômetro poderá enfrentar outro problema. A sílica simplesmente vai absorver tudo que existir de umidade e ponto final, nem condensação vai haver. Isso parece ótimo mas não é. A objetiva tem graxa e esta requer um nível mínimo de úmidade. Senão de graxa vira cola!
Agora, conhece aquela famosa frase “Eu não creio em bruxas. Mas que elas existem, existem”?! Pois tem outras coisas que se deve saber a respeito de fungos.
A idade deles determina o grau de resistência a luz UV e a outras formas de radiação. Quanto mais velho, mais resistentes. Isso se aplica a praticamente qualquer espécie de fungo. Pense numa colônia de fungos que se desenvolve internamente na objetiva, em algúm local não visível da mesma, destruindo a cola. Quanto esta colônia chegar ao vidro ou algúm outro lugar visível, já contará com diversos dias de vida e maior resistência.
Em algumas espécies, observou-se mutação, acompanhada por aumento no nível de resistência a luz UV. Isso pode ser ruim. Se as objetivas modernas filtram praticamente todo o UV, aquilo que entra é tão pouco que pode agir como uma verdadeira dose homeopática: ao invés de eliminar, cria esporos mais adaptados. Mera conjectura, OK? Mas vale a pena pesquisar e refletir mais sobre isso.
Em alguns tipos de esporos foi encontrado uma proteína sensível a luz. O comportamento desses esporos consiste em procurar lugares com menor incidência de luz para se fixarem e se desenvolverem. Não sei ao certo a qual tipo de luz são sensíveis (se somente UV, ou toda e qualquer luz) nem se esses tipos de esporos são aqueles normalmente encontrados no interior de objetivas. O que quero dizer é que se você mantém suas objetivas limpas e mantém controle de umidade, não vai custar nada também mantê-las expostas à luz.
Enfim, melhor se prevenir do que remediar. O que me parece importante é ter consciência de que a prevenção por luz ou por luz UV pode falhar, pelos motivos expostos anteriormente e que dizem respeito as matérias e tecnologias contemporâneas empregados na construção de objetivas. O que realmente se sabe é que a objetiva deve estar livre de matéria orgânica e sob controle de umidade.
Também dá pra ter uma noção maior do quanto a luz UV pode ajudar. Vou usar as objetivas da Canon como exemplo.
Objetivas do tipo “L” (as mais caras da Canon) são fabricadas com os melhores materiais, colas e graxas modernas, que apresentam menor quantidade de nutrientes, e se constituem em um ambiente não tão propício para o desenvolvimento de fungos. Possuem multi-camadas e impedem a entrada de luz UV. Se os fungos se desenvolverem no interior delas, não vai ser a luz UV que vai eliminá-los. O remédio tabajara consiste em usar calor para eliminá-los. Mas o ideal é mandar a objetiva pra assistência. Mesmo porque o grande problema não é o fungo propriamente dito, pois fungo não come vidro! São os ácidos produzidos durante a síntese de substâncias que destroem o vidro. E estes só podem ser eliminados através de desmonte e limpeza.
Objetivas FD e objetivas AF comuns são fabricadas com materiais mais baratos (mais ricos em nutrientes), e oferecem melhores condições para o desenvolvimento de fungos. Geralmente não possuem multi-camadas e permitem a entrada de luz UV. Vale a pena aumentar a prevenção e manter estas objetivas expostas a luz UV. Não faz mal e há maior chance de prevenir fungos com este simples procedimento.
Falar em regras pra um assunto tão confuso é uma faca de dois “legumes”. Mas ao menos 3 coisas podem ser observadas:
1) Controle a umidade. Arrume um higrômetro confiável e verifique se o local, seja qual for, é adequado. É recomendável manter umidade em torno de 35 a 50%. Nem mais nem menos.
2) Objetivas, filtros, câmeras, flashs e acessórios armazenados livres de partículas, suor, poeira e sem contato com material orgânico, como por exemplo a bolsa da objetiva ou a correia da máquina. As bolsas de objetiva da Canon que conheço possuem couro (talvez sintético mas na dúvida não arrisque).
3) Toda regra tem excessão.

Onde encontro silica gel?
Em São Paulo, pode encontrar na SoftPost. Vende sílica em kilo, a granel como se costuma dizer, e envia para todo o Brasil. Impregnam a sílica com cloreto de cobalto: quando seca apresenta coloração azul e quando saturada, coloração rosa. Além disso esta sílica pode ser recuperada através de aquecimento.

Nota final

As fotos foram copiadas de Fungi in Potographic Lens

Um comentário:

Dagma Castro disse...

Olá, muito bom o artigo sobre fungos. Linguagem fácil, didática e com diversas dicas.
Como muito bem observado pelo Alex Araújo, só limpeza, uso constantes e armazenamento adequado evitam que os danados surjam. Na matéria tem um link para 'armário desumidificador', chinês acredito. Mas gostaria de deixar aqui uma indicação de um produto de inovação nacional, criado pelo fotógrafo Leonel Tedesco. Trata-se do Póp Case, um dry box para preservação das lentes e equipamentos sob controle de proliferação dos fungos através de um sistema que combina controle de umidade (higrômetro digital), iluminação (led) e ambiente asséptico (sem materiais orgânicos). Com investimentos super acessíveis e parcelados para os diversos formatos. Você nos encontra nas redes sociais por #popcase ou no nosso site www.popcase.com.br.
Se mandar a dica deste comentário do ClickSP/Alex Araújo leva desconto de 10% .

Abraço

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